Memórias Visuais

Memórias Visuais

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Exposição itinerante, realizada em 2001 e 2002, pinturas recentes de Gilberto Salvador, nas cidades de Curitiba, Campo Grande, Salvador (2001) e Florianópolis (2002)

As exposições foram elaboradas com pinturas recentes do artista e tem uma conotação iconográfica, com imagens da memória do mesmo, onde gestos, traços, aves, bicicletas, pipas e leões compõem os elementos básicos das suas composições.

São 18 telas com pintura acrílica sobre algodão em dimensões variadas.

 


Nome: Memórias Visuais
Artista: Gilberto Salvador
Ano: 2001
Local: Galeria de Arte Fraletti e Rubbo – Curitiba, PR (28 de agosto a 22 de setembro de 2001)
Art Galeria Mara Dolzan – Campo Grande, MS (14 de setembro a 05 de outubro de 2001)
Galeria Prova do Artista – Salvador, BA (30 de outubro a 17 de novembro de 2001)
Museu de Arte de Santa Catarina – Florianópolis, SC (2002)


 

 

 

A imponente figura do pássaro de asas abertas, projetada em toda a extensão horizontal do quadro num primeiro momento, parece referir, simbolicamente, o amplo sentido de liberdade proposto na pintura refinada e amadurecida de Gilberto Salvador. A imagem, aparentemente banal em sua simplicidade, isenta de qualquer rigidez, é na verdade, algo que pretende reafirmar a possibilidade de novos potenciais tratados no encaminhamento da própria linguagem, destacando-se, de certo modo, sobre os demais planos e representando um dado conceitual e estrutural de extrema importância na obra do artista. Ás vezes, apenas sugerida quase abstrata, ela se integra ao fundo com bastante suavidade, transformando-se em parte essencial no equilíbrio da composição. É interessante notar seu aparecimento em diferentes fases de um trabalho iniciado pouco depois do golpe militar de 64, com proposições de caráter figurativo, elaborado sobre o drama político-social que mobilizou milhares de pessoas no país contra o pesadelo que, da forma mais autoritária, restringiu a liberdade de pensamento e retardou a construção de um verdadeiro Estado democrático entre nós. 

Não obstante haver o pintor participado do extenso movimento de resistência referido acima, percebeu-se com clareza que o significado deste símbolo, aqui é bem diferente. Pretende, creio eu suscitar naquele que o vê a idéia de um propósito maior no âmbito da criação artística, a partir de uma visão desvinculada de modismos, propondo uma obra aberta a todas as variantes de representação criada pelo homem sensível. Do mesmo modo, outras figuras, quase imperceptíveis – uma bicicleta ou uma silhueta feminina, dispõem-se a seguir outras funções da mesma proposição que nos faz refletir sobre riqueza do universo pictorial que se abre de maneira prazerosa aos nossos olhos. Certa vez, conversando com o pintor sobre a importância desse aspecto tantas vezes ressaltado em suas telas, não foi difícil constatar sua relação direta com determinadas questões, próprias dos artistas, quanto á necessidade de prosseguir em seu trabalho experimental, embora em permanente tensão ante o desafio de Ter que dizer as coisas da forma mais criativa e expressiva possível. Na ocasião, pintor e músico trocaram impressões sobre suas experiências pessoais durante o processo criativo. Lembro-me de ter falado do desejo, nem sempre alcançado de realizar alguma coisa nova; dos impasses e do abandono, a certa altura, do projeto. Em alguns casos, ficamos surpresos com a semelhança de comportamento na maneira de tratar a idéia original, bem como das mudanças ocorridas durante seu desenvolvimento. Apesar da dessemelhança dos meios de expressão disponíveis de cada um, não há nada que impeça esta estreita e proveitosa relação, principalmente se considerarmos a ligação natural existente entre dois elementos fundamentais: a cor e o som. 

Aqui nos deparamos, apesar da enorme dificuldade de tradução das palavras, com a sutil musicalidade manifesta em alguns desses quadros. Algo que, por motivos óbvios, não pode “escutar” de olhos e espíritos fechados, e que resulta de um antigo apaixonado “caso” do pintor com a música. 

Um especialista poderia falar muito mais e melhor da obra do nosso querido Giba. De planos, texturas, linhas, cores e da discreta elegância resultante de suas combinações. Dos grafismos, que permitem quebrar alguma dureza eventual no conjunto. Ou mesmo da alegria; do lúdico; do prazer transmitido pela magnífica interação da linguagem cromática. Talvez, quem sabe, do sensualismo que, em certos momentos, inspira-nos sua gestualidade. No momento, seria ir longe demais. Mesmo porque, acredito que muitos textos sobre obras de artistas plásticos não conseguem dimensioná-las em sua inteireza e, menos ainda, aproximá-las das pessoas. Portanto, melhor será acompanhar esta exposição que reúne os recentes trabalhos de um artista sensível, com pleno domínio de suas técnicas, nos trinta anos de sua carreira. Sinto-me honrado com seu convite para escrever estas linhas e feliz de poder participar desta comemoração, que considero justa, pela excelente contribuição dada por Gilberto Salvador à nossa cultura. 

….riso  aberto, incontido, como na infância,  

toque sacana de cavaco, como suporte, 

quase um samba….. 

 

– Paulinho da Viola, maio/1995

 


Patrocínio: Engevix Engenharia S.A., Instituto Takano
Apoio: Fundo Nacional da Cultura, Ministério da Cultura, Governo Federal
Realização: Galeria de Arte Fraletti e Rubbo, Art Galeria Mara Dolzan, Galeria Prova do Artista, Museu de Arte de Santa Catarina, Fundação Catarinense de Cultura, Fundação Cultural e Artística Gilberto Salvador