A experiência do espaço na obra escultórica se relaciona com o estar no mundo do espectador, mas também com uma espacialidade proposta pelo artista. Em princípio, existem duas maneiras de propor este relacionamento: oferecendo a vivência do trabalho como uma construção física em torno da qual o espectador pode se deslocar; ou, então, colocando-o diretamente em frente à obra, de forma a experimentá-la pictoricamente, como espaço planificado.
A produção de Gilberto Salvador, apresentada nesta exposição, transita entre essas duas modalidades de experiência. A estética da ambiguidade visual que persegue está diretamente associada às estratégias em que um determinado plano parece deslocar-se pelo espaço, à medida que o observador escolhe um número de leituras ou observações possíveis desde sua localização externa à obra.
Em alguns casos, ele programa uma instigante qualidade plana que suscita imediata estranheza, não só pela frontalidade como pela centralização e diversificação de formas. As superfícies coloridas, planas ou curvas, irradiam um mundo de difração ótica, criando a impressão de uma imagem submersa e perdida sob uma capa polida. Em outros, explora o espaço tridimensional com volumes imaginários, cuja representação total se associa à relação existente entre o objeto e o espectador. O artista utiliza o brilho da superfície como um recurso adicional para garantir um sentido de distância formal entre o observador e a obra. O uso da cor acentua a sensação de separação entre os dois modos de existência no espaço, subverte os elementos estruturais produzindo ambivalências.
Incitando a uma apreciação que leva em conta tempo e espaços reais, exigindo uma posição não distanciada, o processo de apreensão da obra se dá no ato mesmo da visão. São peças que se desdobram no espaço, mantendo uma unidade formal quase suspensa. Se, em um primeiro olhar, elas parecem construídas de forma modular, nos seguintes se evidenciam compostas de diversos e diferenciados fragmentos, como se uma figura estilhaçada se recompusesse para nos permitir observar detidamente suas partes. Fugindo ao geométrico racional, Gilberto Salvador constrói unidades que estimulam a reflexão pelo instável, pelo ambíguo e pelo surpreendente.
– Maria Amélia Bulhões, pesquisadora do CNPQ, professora e orientadora no Programa de Pós-graduação em Artes Visuais da UFRGS. Doutora pela USP, com pós-doutorado na Universidade de Paris I, Sorbonne. Organizadora e coautora de vários livros, colabora regularmente com revistas nacionais e internacionais. Membro da Associação Internacional de Crítica de Arte, assessora artistas e instituições e realiza curadorias no Brasil e no exterior.
Nome: Reflexões Visuais
Artista: Gilberto Salvador
Ano: 2006
Local: Centro Cultural FIESP, Galeria do Arte do SESI (18 de setembro a 29 de outubro de 2006)
Curadoria: Maria Amélia Bulhões
Projeto Expositivo: Haron Cohen
Projeto de Arte-educação: Marina Toledo
O livro Gilberto Salvador Reflexões Visuais. Feito na mesma data que a exposição na Galeria de Arte do SESI – Espaço Cultural FIESP, mostra algumas das obras expostas e algumas imagens de época. Obras da década de 60 e atuais com maquetes e esboços; processos criativos.
2006, Gilberto Salvador, Reflexões Visuais
Texto: Maria Amélia Bulhões
Coordenação Geral: Ana Cláudia Roso
Projeto Gráfico: Piacentini Design
Tradução: Marie Adele Ryan e Donald Occhiuzzo
Patrocínio: Engevix, Santander Banespa e Usina Colorado
Apoio: Cultural: Fundo Nacional da Cultura, Ministério da Cultura, Governo Federal, Montana Química, Burti, QG Propaganda
Realização: FIESP,SESI,SENAI, IRS e Fundação Cultural e Artística Gilberto Salvador
Língua: Português / Inglês
Links
2006 Obra da Bienal de 69 – Gilberto Salvador – FIESP Galeria do SESI | DeBeiran
2006 Depoimento com Arte Gilberto Salvador | TV Assembleia
2006 Reflexões Visuais de Gilberto Salvador – Galeria do SESI Centro Cultural FIESP | Mix TV