Esta mostra é uma coletânea de objetos tridimensionais que produzi nos últimos três anos. São esculturas onde proponho uma decomposição de objetos comuns de meu cotidiano e os recomponho a partir de uma lógica, onde sua origem formal seja somente uma referência temática e gráfica para criação de um objeto com novo significado visual.
Esta requalificação dos objetos está inserida em uma retomada que faço de minha obra dos meados da década dos anos 60, pois na época minhas esculturas realizadas em aço inoxidável e luzes, já continham o pensamento de reconstrução que utilizo hoje e por hora apresento. Os zíperes, os parafusos, os cadeados são temas, aos quais não me restrinjo ao seu significado literário e conceitual, mas são reconstruções, dentro de uma proposta pragmática e com o uso de um rigoroso “espírito geométrico” de conceitos matemáticos e geométricos, utilizando-se de retas, planos, cortes, ângulos e uma sequencial repetição de elementos, criando uma nova harmonia espacial, para definir uma nova poética para estes objetos e dar ao observador uma releitura dos mesmos ou divagar nestas novas relações espaciais, com uma coerência estrutural, mas sem perder a possibilidade do desequilibro, da desarmonia como elementos de instigação.
O uso destes conceitos geométricos e estruturais foi em muitos momentos, resgatado de uma observação atenta e minuciosa da natureza, assim como fizeram Frei Otto e R.Bunckminster Fuller na leitura das estruturas das folhas, das flores, e dos animais. Criando novos simbolismos nesta relação e que são resultados formais e estéticos, sem interesse de significado literal ou descritivo dos mesmos, mas acima de tudo mostrar velhas coisas de maneira nova.
As cores escolhidas, apesar de básicas, não têm o caráter de pintura como linguagem, servem única e exclusivamente para pontificar as esculturas na paisagem ou meios onde elas poderão ser inseridas, o seu significado é essencialmente formal, desprovido de qualquer intenção conceitual.
Penso que este conjunto que apresento na Almacén Galeria de Arte define de forma bem nítida a minha escolha pelo discurso formal e plástico acima do literário, pois considero a autonomia da linguagem plástica uma conquista libertaria das artes plásticas, como poética e linguagem, onde não se subjuga a tema pré-concebido como se fosse uma mera representação engajada em um pensamento já pré-estabelecido. Não nos esqueçamos que nos momentos mais autoritários de nossa civilização todas as expressões artísticas ficaram vinculadas a parâmetros pré-estabelecidos.
A liberdade de expressão só existe, de forma dialética, quando a poética gera conceitos e não seja gerada por eles.
– Gilberto Salvador, Setembro/2007
Nome: Reconstruções
Artista: Gilberto Salvador
Ano: 2007
Local: Almacén Galeria de Arte (30 de outubro a 18 de novembro de 2007)