Mostra itinerante, realizada no ano 2000, com os artistas João Rossi, Maria Bonomi, Marcello Nitsche e Gilberto Salvador, nas cidades de Florianópolis, São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília.
Os quatro artistas convidados fizeram parte da Bienal Internacional de São Paulo de 1969, onde o tema era “Arte e Tecnologia”, são artistas que têm uma consolidada atuação no cenário das artes plásticas Brasileiras e aceitaram participar com obras atuais; seis obras cada um.
Nome: Arte e Tecnologia
Artista: João Rossi, Maria Bonomi, Marcello Nitsche e Gilberto Salvador
Ano: 2000 / 2001
Local: Museu de Arte de Santa Catarina – Florianópolis 01/11/200 a 15/11/2000
House Garden – São Paulo 22/11/2000 a 04/12/2000
House Garden – Rio de Janeiro 11/12/2000 a 22/12/2000
Visual Galeria de Arte – Brasília janeiro 2001
“… Do ponto de vista da pura tecnologia, a arte se expressa através de grande eficiência.
Hoje o artista brasileiro utiliza tecnologia de ponta; tecnologias arcaicas e ainda eficientes; arremedos de tecnologia, como comentário; fragmentos tecnológicos; detritos tecnológicos; tecnologias doces, não agressivas; tecnologias imaginárias; tecnologias do futuro.
Esses quatro artistas, João Rossi, Maria Bonomi, Marcelo Nitsche e Gilberto Salvador, lutaram sempre por duas coisas. A primeira, mas não por ordem de precedência, por sua pesquisa de imagens, formação pessoal, aprendizado técnico, conhecimento dos meios tecnológicos à disposição da arte e, finalmente, pela construção de sua linguagem pessoal e única.
A segunda coisa que sempre os emocionou, foi a criação de um país de qualidade de vida superior, no qual o homem brasileiro pudesse expandir a sua verdadeira vocação, a vivência artística da sensibilidade. Em várias frentes, desde a luta pessoal por novos locais de vivência da arte, até a atividade didática permanente, João Rossi, Maria Bonomi, Marcelo Nitsche e Gilberto Salvador, estiveram presentes.
Essa mostra apresenta a obra de quatro artistas brasileiros que utilizaram a tecnologia de maneira extremamente pessoal e individualizaram as suas obras, tornando-a original e contundente, devido à criatividade na construção de seu trabalho. Aqui está o mestre andarilho dos caminhos ameríndios, João Rossi; Maria Bonomi, a pesquisadora dos símbolos tribais e dos sulcos ancestrais na madeira; Marcelo Nitsche, o lúdico criador de universos que reinventam o puer; Gilberto Salvador, o autor da saga do pássaro da liberdade.
O artista João Rossi era operativo e dinâmico, produzia coisas, inventava moldes especiais para informar e desinformar esculturas por processos rápidos e econômicos. Cortava o metal da gravura, criava áreas de branco e movimento no suporte. A sua pintura se carregava de matéria e, às vezes, de objetos. Fazia caixas mágicas que continham, no seu interior, miríades de brilhos da cidade que ele resgatava na rua e guardava nos seus olhos. E tudo ele povoava de figuras ameríndias, as pessoas da América que ele amava como irmãos, se é que se ama tanto o irmão. Rossi tinha um sonho, ensinar as crianças da América a liberdade possível que a arte nos traz. Ele realizou esse sonho. E desejava tornar a sua arte acessível a todos, inventar sistemas de produção e cultivar centros culturais. Ele criou escolas, construiu murais, ensinou professores e, em boa parte, conseguiu. Era um homem que estava sempre imaginando coisas novas. João Rossi era um artista.
O artista Marcelo Nitsche gosta de andar no limite, na fimbria, entre fronteiras, na terra de ninguém. Agora, ele cria “pinceladas”, em material rígido, como se fosse uma placa, com os respingos e as falhas das cerdas do pincel. Não é pintura, escultura ou um objeto tradicional, já que nem corpo tem, é uma espécie de alma da pincelada. Na ortodoxia, é uma pincelada desclassificada. É assim que ele se move, por esses caminhos incógnitos, desfiladeiros fora do mapa, mexendo na estrutura das coisas, como uma criança que desmonta o brinquedo para ver o que tem dentro e – surpresa! – quando remonta, o que era um rádio transforma-se em bicicleta. Vocês sabem, tão bem quanto eu, que isto é impossível. Estamos juntos nisso. Agora, porque vocês não vão explicar para o Nitsche? Ou, melhor ainda, porque vocês não contam para a bicicleta que ela não é bicicleta, mas um rádio?
Ela faz sempre a mesma coisa, e é sempre diferente. Quando pensamos que temos Maria Bonomi aprisionada num sistema, ela nos escapa entre os dedos, e nos apresenta a novidade. Ela se move num terreno acidentado, curvas, montes e cavidades, áreas iluminadas e escuras. É a topografia que a goiva escava na madeira. E a construção do sulco, o seu principal personagem. Maria Bonomi é a mais fiel transgressora das amantes que a xilogravura teve. Ninguém, foi tão agarrada à tradição e, poucos terão enveredado por tantas experiências e tentativas de estender o antigo método de impressão à outras funções. Para a artista, a xilogravura é uma experiência infindável e não um rito de passagem. A natureza da xilo em Maria Bonomi sofreu algumas alterações notáveis. De peça pequena destinada à leitura pessoal, individual e de curta instância, a xilo transformou-se em peça de parede, de grande formato e fruição múltipla.
A odisseia, em púrpura e azul, a mais bela e dramática, é de autoria do artista Gilberto Salvador. Súbito o espaço é vitalizado pelo gestual preciso, o pincel é a mão que escolhe, as massas adquirem vida e o artista registra o rastro do vôo. A metáfora da liberdade é o tema de Gilberto Salvador e ele, nos seus 30 anos de criação, sob as mais variadas aparências, expressou a percepção e o desejo humano de transcendência. É raro um artista tão visceralmente ligado ao seu processo produtivo. Não apenas cada trabalho seu é uma luta corporal, como envolve o conjunto de suas atividades psíquicas, emocionais e espirituais. Dessa maneira, o principal enfrentamento do artista é consigo mesmo e ele está num combate perigoso e mortal. A luminosidade das asas do pássaro. A vibração das cores no espaço aberto, no espaço aberto a vibração das cores surpreendida no reflexo prismático das penas vermelhas.“
– Jacob Klintowitz, 31/10/00 Arte e Tecnologia
Links
http://www1.an.com.br/2000/nov/01/0ane.htm